O Tudo Sobre Mieloma Múltiplo
conversou com o Dr. Mauricio Etchebehere – ortopedista e professor assistente
do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Ciências
Médicas da UNICAMP e coordenador do Grupo de Oncologia Ortopédica do Hospital
de Clínicas da UNICAMP – sobre a doença óssea em pacientes com mieloma
múltiplo.
O médico explicou na entrevista qual o papel do
ortopedista em uma equipe de tratamento da doença e orientou sobre a prática de
exercícios físicos supervisionados.
Também, Dr. Etchebehere alertou para a
importância da valorização da queixa É a valorização da queixa: “O mais importante é que os
médicos, os pacientes e os cuidadores, fiquem atentos às dores que não são
habituais, que se acentuam ou que aparecem mesmo com movimentos pequenos.”.
Confira a entrevista na íntegra e multiplique a
informação!
Instituto Oncoguia - Porque o mieloma
múltiplo causa dores e fraturas ósseas?
Dr. Maurício – De forma geral, a dor
decorrente do mieloma múltiplo acontece porque o tumor enfraqueceu determinado
osso, esse osso está prestes a quebrar ou quebrou, ou em razão do crescimento
do tumor e a consequente compressão de uma estrutura, como as raízes dos nervos
próximos das vértebras. De forma geral, o paciente se queixa de dores em locais
que estão enfraquecidos pelo tumor e onde haverá uma fratura. Há outros fatores
que causam dor, mas aquela mais aguda, mais forte, é causada pela fratura,
quase fratura ou compressão dos nervos.
Instituto Oncoguia – Mas a fratura
óssea é mesmo muito comum nos pacientes com mieloma múltiplo? Pode ser um fator
importante para o diagnóstico deste câncer?
Dr. Maurício – É muito comum. Em alguns
casos, é a primeira manifestação da doença. Mas muitas vezes o diagnóstico pode
acabar sendo retardado, por exemplo, nas situações em que uma fratura de coluna
em pessoa idosa é confundida com fratura decorrente da osteoporose. De fato é
difícil distinguir, e às vezes nem mesmo com a biópsia é possível fechar o
diagnóstico. É comum também que o paciente procure por um
médico ortopedista ou clínico com queixa de dor difusa, o que pode levar ao
falso diagnóstico de doenças reumatológicas, ou de fibromialgia; confunde-se,
principalmente, pois as lesões podem não aparecer no exame de Raios X no início
da doença.
Instituto Oncoguia – Existe, no
treinamento dos residentes em geral, uma abordagem sobre a investigação mínima
de mieloma múltiplo como parte do diagnóstico diferencial de dores?
Dr. Maurício – Sim. Nas residências
médicas essa informação vem sendo mais disseminada, e aqueles profissionais com
formação sólida, em instituições que oferecem serviços de oncologia, são
acostumados a lidar com isso. Há situações hoje em que nós, médicos
ortopedistas, devemos observar as ‘bandeiras amarelas e vermelhas’, e isso é
sabido. Algumas dessas bandeiras são dor lombar há mais de três meses,
antecedente de câncer, traumatismo e febre. Assim se um paciente com mais de 50
anos está sentindo dores ósseas há mais de três meses e apresentou uma fratura
na vértebra, por exemplo, que não está associada à osteoporose, a causa tem que
ser investigada. O diagnóstico do mieloma múltiplo ainda é, sim, um pouco
retardado, pois esse representa apenas 1% dos cânceres. Mas o acesso à
ressonância magnética, que não é mais um exame complexo, permite diagnosticar o
paciente com mieloma com mais rapidez. No entanto, como sabemos, o problema
ainda reside na rede básica de saúde onde o acesso a exames mais complexos
ainda é difícil.
Instituto Oncoguia – Qual o papel do
ortopedista no tratamento do mieloma múltiplo? Em que momentos do tratamento
ele atua?
Dr. Maurício – A doença óssea é dividida
em situações de risco de fratura e não risco de fratura. O
paciente é encaminhado pelo onco-hematologista ou oncologista ao médico
ortopedista quando há risco em locais propensos a fraturas graves, como no
quadril – que podem deixar o paciente acamado e com muita dor. Nessas situações
o ortopedista age no sentido de evitar a fratura, a partir de um procedimento
cirúrgico profilático, e em geral aquela lesão desaparece. Nas lesões tratadas
com quimioterapia, e que geralmente desaparecem, o osso pode ficar com uma
espécie de cicatriz; nessas situações o ortopedista também tem que atuar se
houver risco de fratura. Em uma equipe de tratamento do mieloma múltiplo, o
onco-hematologista é o coordenador – quem define a linha de tratamento – e o
médico ortopedista representa aquilo que chamamos de apoio matricial. É
importante ressaltar que toda vez que se faz um tratamento ortopédico há a
intervenção posterior do fisioterapeuta, para proporcionar a reabilitação do
paciente.
Instituto Oncoguia – Que recomendações são
importantes aos pacientes para protegerem-se das fraturas?
Dr. Maurício – Primeiro de tudo, uma
afirmação fundamental: A gente sempre dará solução para os problemas.
Há recursos para isso. Segundo ponto muitíssimo importante, é que os pacientes,
cuidadores e médicos precisam valorizar as queixas, as dores, principalmente as
dores nos membros. A cintilografia, que é um excelente exame para outros tipos
de cânceres, no caso do mieloma múltiplo não consegue dar o real mapeamento da
localização da doença. O que quero dizer é que a parte clínica é mais
importante no caso dessa doença e, então, se o paciente está com dor ele
precisa posicionar o médico que o acompanha. Não queremos que o paciente sofra
com dor, mas sim que mantenha a sua atividade funcional. Que ande, que vá ao
shopping, que passeie (…) que siga com suas atividades diárias na medida do
possível e nas melhores condições.
Instituto Oncoguia – É indicada ao
paciente com mieloma múltiplo a prática de exercícios físicos? Quais são os
exercícios mais (e menos) recomendados? Existem momentos do tratamento em que o
paciente deva parar de praticar qualquer atividade?
Dr. Maurício - Isso depende da
localização de cada tumor. Os pacientes com lesões na coluna devem evitar peso
e esforços com flexões muito grandes da coluna. Mas se o paciente já está
estabilizado (operado ou com prótese) deve buscar fazer atividades físicas
regulares. A gente sabe que se ele mantiver uma atividade física regular que
não seja extenuante, como caminhar, isso será muito bom para ele. A musculação
bem orientada é bastante indicada, desde que seja feita com a ciência e a
supervisão dos médicos que acompanham o paciente e orientada por um
fisioterapeuta ou preparador físico.
Instituto Oncoguia – A alimentação
balanceada pode colaborar com o fortalecimento dos ossos no caso do pacientes
com mieloma? Se sim, que alimentos são indicados?
Dr. Maurício – No tratamento do mieloma,
em geral, os clínicos e onco-hematologistas prescrevem medicações para a
manutenção do cálcio dos ossos. Mas como na osteoporose, alimentos com cálcio e
complementação com Vitamina D são positivos. A alimentação balanceada é
importante e dará um suporte geral ao paciente, mas para isso é necessária a
orientação de um nutricionista.
Instituto Oncoguia – Algo mais que o
senhor considere importante informar ao paciente?
Dr. Maurício – O mais importante é que
os médicos, os pacientes e os cuidadores, fiquem atentos às dores que não são
habituais, que se acentuam ou que aparecem mesmo com movimentos pequenos. É
a valorização da queixa. Um ortopedista de referência, que conheça o
paciente e o acompanhe nos momentos necessários é também muito importante.
Fonte: www.tudosobremielomamultiplo.com.br
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