10 de out. de 2012

RELATO DE UMA CUIDADORA DE PACIENTE COM MIELOMA MÚLTIPLO


Transcrevo o relato que gentilmente me foi cedido por Jaqueline Costa, moradora de Belo Horizonte, Minas Gerais, filha de uma paciente com mieloma múltiplo.

O desabafo da Jaqueline reforça minha luta em divulgar e conscientizar a população sobre esse câncer desconhecido que fragiliza e maltrata o paciente.

Jackie agradeço a disponibilidade e coragem em expor seus sentimentos frente a essa batalha com sua mãe.

Grande abraço. 


Venho apresentar meu desabafo e compartilhar experiência sobre o que temos passado a cerca de 5 meses desde o diagnóstico de Mieloma Múltiplo com minha mãe.


Tudo começou em Maço, após fortes dores de coluna que aumentavam gradativamente. Nossa primeira ação foi buscar orientação com ortopedistas e a maioria deles informavam ser problema muscular e foi alterado o remédio para dor, até chegar a tomar tramadol que era o único remédio que conseguia controlar melhor as dores. Mas não a eliminou por completo e as preocupações aumentaram. Foi então, que procuramos um especialista particular em ortopedia no Hospital Ortopédico de Belo Horizonte, que suspeitando do quadro dela, solicitou vários exames inclusive de ressonância magnética e citologia.

Nessa primeira etapa de luta, a partir dos primeiros sintomas de dor, se passaram pouco menos de 20 dias, e quando os resultados dos exames saíram recebemos a orientação de procuramos um oncologista e que ela não tira-se o colete cervical para nada. Nesse momento, com mais informações voltamos a recorrer ao Plano de Saúde que ela tem direito.

Graças a Deus, apesar dos problemas e erros, tivemos médicos que mesmo não atendendo o plano, se prontificaram em ajudar com orientações e interesse pelo caso. E foi graças a orientação de um ortopedista especializado em oncologia, que recebemos a notícia da real gravidade do caso naquele primeiro momento. 

Com uma lesão séria na vértebra, haviam duas opções para descompressão da área: cirurgia ou radioterapia.

Nesse período, tivemos que ter muita paciência para esperar os resultados dos exames.  E para evitar a cirurgiã que apresentava entre os riscos mais prováveis, a tetraplegia devido a região, optamos pela radioterapia, mas enquanto os resultados não saíssem não poderiam encaminha-la para esse tratamento.

Em poucos dias, infelizmente, a lesão piorou, a vértebra sofreu um descalcificação total e a única saída era a cirurgia. Seria preciso fazer enxerto de material da bacia para fixar duas vértebras. Até então, ela não havia feito uso de nenhum medicamento para a doença. E teríamos ainda que aguardar a biopsia, para mais detalhes da doença, somente após 10 dias da cirurgiã.

A cirurgiã foi um sucesso, devido a providencia divina e a competência do cirurgião de coluna que assumiu seu caso. E assim, vencemos a primeira etapa!

Foi preciso mais mês para ela se recuperar da operação, aguardar resultado do mielograma. Quando de pose de todos os exame possíveis, seu médico Hematologista apresentou a conduta para os dois procedimentos. E ela fez durante um mês, sessões diárias de radioterapia na região vertebral, e começou a receber doses de quimioterapia de 15 em 15 dias. Foi receitado também a Talidomida juntamente com as sessões.

Mas os efeitos colateiras da medicação, a deixaram bastante debilitada, e o médico decidiu suspender por um tempo a Talidomida. E assim, de 15 em 15 dias ela fazia a consulta com o médico hematologista para acompanhamento da doença. De todas as vezes que fomos a consulta ela começou a reclamar de dores em outra região do coluna. E o médico ortopedista que a acompanhava desde a cirurgiã alertou sobre uma lesão quase imperceptível na região da lombar. Passamos essa suspeita para o hematologista, que até então pedia somente exames de sangue e raio-x para dar sua avaliação sobre lesões e comportamento atual do mieloma. E nada foi averiguado a fundo sobre as dores que ela sempre mencionava ao hematologista, e o mesmo nos dizia ser o normal da doença.

Ao final das sessões de radioterapia ela recebeu alta do procedimento, seguindo com a mesma programação de quimioterapia. E a talidomida continuou suspensa por quase dois meses. O hematologista entrou de férias, e a médica que o substituiu também não recomendou retornar o remédio.

As dores continuavam e controlávamos com o tramadol, até que dias depois , ela teve fortes dores, passou muito mal e corremos com ela para um hospital particular em Betim e conforme orientação de um médico oncologista que a atendeu, foi receitado morfina via oral de 10mg.

De volta à consulta, a última médica que nos atendeu pela primeira vez, para cobrir férias do hematologista habitual, se assustou com a evolução da doença após ver todos os exames que sempre carregamos conosco muito organizados em pastas. Com toda atenção ela comparou cada exame, desde o primeiro até os últimos (incluindo o de ressonância da lombar, de um dia atrás, que fizemos particular para ganhar tempo). Com tudo em mãos, ela informou que o tipo de mieloma da minha mãe era extremamente agressivo e que a conduta de quimioterapia teria que ser alterada para que fosse feita semanalmente e que era essencial retomar com a Talidomida. Mas não foi requerido mais qualquer outro exame e acreditamos que com o tratamento de quimioterapia mais intensa, o tumor que agora se apresentava também na lombar iria diminuir.

Isso ocorreu numa quinta-feira! Voltando para casa, ela começou a sentir dores insuportáveis durante toda a noite, e de manhã apresentou fraqueza nas pernas. Corremos com ela para o hospital em Betim.

Ao ser atendida, recebemos a notícia de que ela teria de ser operada urgentemente. E todos os procedimentos para agilizar a cirurgiã foram providenciados a contento pelo hospital. Foi repetida a ressonância magnética, sendo que desda vez foi feita também na região torácica, onde foi descoberta uma extensa compressão que havia atingindo seriamente o nervo responsável pelo movimento das pernas.

Na segunda-feira, ela continuava no hospital recebendo acompanhamento. O movimento das pernas não voltou, e recebemos do neurocirurgião a notícia de que não havia como saber, no momento, se os movimentos irão voltar, que teríamos que aguardar a recuperação e resultado de novos exames que estão sendo providenciados. E que agora, ela precisará de fisioterapia para aumentar as chances de recuperar os movimentos.

Frente a todos os acontecimentos, nosso sentimento é de desconsolo, mas estamos nos agarrando a qualquer fio de esperança que nos restar. Ela está serena, mas sei que faz isso, muito para não nos deixar desesperados e para que possamos enfrentar os fatos com muita força e fé. A nova batalha não será fácil, mas com amor e a família unida estamos prontos para encarar mais essa etapa. E é impossível, não ficarmos indignados com o tratamento que foi dado ao seu caso, que nos dá a impressão de que ela foi enquadrada como um paciente padrão, e que não foi averiguado a contento o avanço da doença pela o especialista responsável.

Agora fica claro, que o tratamento dela não estava surtindo efeito. Ela está com a doença em avanço, e de forma muito agressiva. E estava sendo tratada como se tivesse um quadro brando de mieloma. Falta de informação da família não foi, pois todas as vezes que ela ia se consultar foi alertado as dores em uma nova região da coluna, e nada foi apurado, até que recorremos então por conta própria à consultas e exames para apurar as dores cada vez mais crescente, a ponto de faze-la ser medicada com morfina de 4 em 4 horas.

O que sabemos, sobre o que virá daqui pra frente, é que ela será submetida a um tratamento mais severo de quimioterapia com Velcade.

Que esse meu desabafo, sirva também de experiência para aqueles que possam estar com sintomas e evolução do quadro semelhantes. E que seja cobrada uma postura médica que de fato atenda as necessidades individuais de cada paciente, sendo pedido exames de imagem precisos que possam dar plena confiança de que a doença está sendo controlada.

Cada paciente é um individuo com características próprias, e a doença também tem suas variações. 

Portanto, não pode ser negligenciada sua ocorrência e necessidade de um conhecimento amplo pelo médico. Nós familiares, ficamos muitas vezes reféns de diagnostico médico e não temos competência de avaliar nada sobre a doença. O que podemos fazer é nos manter atento às alterações nos sintomas, alertar os médicos e fazer com que os mesmos conquistem nossa confiança. E uma vez, com suspeitas, reforçar ajuda do médico responsável e se for preciso, até mesmo procurar outras opiniões médicas. Pois a doença pode evoluir muito rápido, e tudo que queremos é que todo o esforço necessário seja feito, visando seu controle e o alcance da qualidade de vida do paciente.

Agradeço a atenção e desejo a todos que passam pelo mesmo problema, que sejam persistentes na luta. Muito tenho aprendido com a postura guerreira de minha mãe. E com fé, acreditamos trilhar o caminho correto para que ela se recupere plenamente.

A luta não é fácil. Mas para quem luta e acredita, sabe que para Deus nada é impossível!

Estejam firmes e obrigada a todos, principalmente a Gimeni e ao IMF pelo carinho e informações já prestadas até aqui.

Um grande abraço fraterno a todos!!!

Jaqueline Costa.

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