Tomei conhecimento do artigo que ora apresento, da lavra do Dr. Angelo Maiolino, por intermédio de outro recente, do mesmo autor, que me foi passado pela Valéria Hartt, uma incrível e ferrenha pesquisadora da Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz, que tive o privilégio de conhecer no ano passado.
O que tirei de conclusão ao ler este artigo: NADA, OU QUASE NADA, FOI FEITO nos último 5 (cinco) anos em termos de disseminar a existência do mieloma múltiplo junto a sociedade médica.
Porque cheguei a essa conclusão? A pesquisa foi realizada em 2008 e já estamos em meados de 2013 e o que ainda se constata é o desconhecimento da doença, haja vista o grande número de pacientes tardiamente diagnosticados.
Estou inconformado....
O mieloma
múltiplo (MM) é uma doença de distribuição mundial. Representa 1% de
todos os tipos de câncer, sendo o segundo mais comum entre os
hematológicos, ficando atrás apenas dos linfomas não-Hodgkin. Tem uma
prevalência de 17 casos a cada 100 mil indivíduos e estima-se que 15 mil
novos casos/ano serão diagnosticados nos Estados Unidos.
Infelizmente,
dados epidemiológicos brasileiros não estão disponíveis. Nos últimos
anos tem sido feito um grande esforço para melhor se conhecerem as
características clínicas e demográficas do MM em nosso país, assim como
tentar estabelecer protocolos clínicos para o tratamento desta condição.
Hungria e cols efetuaram um levantamento envolvendo 15 centros de
Hematologia dedicados ao tratamento do MM no Brasil.
O objetivo deste
estudo era o de melhor conhecer as características dos pacientes
acompanhados nestas instituições e tentar validar o International
Staging System (ISS) nesta população. No período de 1998 a 2004, um
total de 1.017 pacientes com MM foi acompanhado nesses centros. A
mediana de idade ao diagnóstico foi de 61 anos (28-94). Nesse estudo,
ficou comprovado que a maior parte dos pacientes com MM no Brasil é
diagnosticada em estádios avançados de doença. Considerando o
estadiamento de Durie e Salmon, 77% dos pacientes eram DS III, e,
peloISS, 86% eram estádio 2 ou 3. É urgente, portanto, um esforço para
melhor divulgar o MM em nosso meio, já que o diagnóstico precoce tem
impacto em termos de sobrevida.
Neste fascículo da Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Paula e Silva e colaboradores
verificaram, através de um inquérito epidemiológico, utilizando testes
de múltipla escolha, o conhecimento sobre aspectos diagnósticos
relacionados ao MM em um grupo de médicos que atuam na atenção básica à
saúde na cidade de Belo Horizonte.
Cento
e trinta e cinco médicos que atuam nesta rede responderam a um
questionário que tinha como objetivo avaliar o profissional perante
cinco questões fundamentais: (1) a conduta frente a um paciente com
anemia, (2) a capacidade de realizar o diagnóstico diferencial em um
paciente idoso com lesões líticas, (3) a capacidade de suspeitar de
hipercalcemia diante de manifestações clínicas sugestivas, (4) a
interpretação da eletroforese de proteínas séricas e (5) a capacidade de
diagnosticar MM diante de um quadro clínico característico.
A
única questão que foi adequadamente respondida pelo grupo de médicos
estudados foi a de número 1, onde a maioria (94%) soube correlacionar o
quadro de anemia normocrômica e normocítica com as doenças crônicas e
neoplásicas prevalentes nesta faixa etária. Para todas as outras
questões, menos da metade dos médicos soube formular uma resposta
adequada, sendo que as duas últimas (interpretação da eletroforese e
quadro clínico do MM), que estão diretamente relacionadas ao diagnóstico
da condição, foram respondidas por apenas 30% e 36% dos médicos,
respectivamente.
Fica
claro que, apesar de não se tratar de uma patologia rara, existe um
profundo desconhecimento acerca do MM exatamente no grupo de
profissionais de saúde que são, na maioria das vezes, os responsáveis
diretos pelo atendimento aos pacientes quando das suas primeiras
manifestações clínicas. A nosso ver, é imprescindível adotarmos uma
estratégia de melhor divulgação da patologia não somente com os
profissionais que atuam na área básica, mas também com os especialistas
(ortopedistas, reumatologistas, nefrologistas, neurologistas) que
frequentemente recebem pacientes com manifestações clínicas que podem
sugerir um diagnóstico de mieloma múltiplo.
Fonte: Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 30, nº, 6, São Paulo, nov/dez. 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário