27 de mai. de 2013

PESQUISA REVELA A FALTA DE CONHECIMENTO MÉDICO SOBRE O MIELOMA MÚLTIPLO

Tomei conhecimento do artigo que ora apresento, da lavra do Dr. Angelo Maiolino, por intermédio de outro recente, do mesmo autor, que me foi passado pela Valéria Hartt, uma incrível e ferrenha pesquisadora da Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz, que tive o privilégio de conhecer no ano passado.

O que tirei de conclusão ao ler este artigo: NADA, OU QUASE NADA, FOI FEITO nos último 5 (cinco) anos em termos de disseminar a existência do mieloma múltiplo junto a sociedade médica.

Porque cheguei a essa conclusão? A pesquisa foi realizada em 2008 e já estamos em meados de 2013 e o que ainda se constata é o desconhecimento da doença, haja vista o grande número de pacientes tardiamente diagnosticados.

Estou inconformado....


O mieloma múltiplo (MM) é uma doença de distribuição mundial. Representa 1% de todos os tipos de câncer, sendo o segundo mais comum entre os hematológicos, ficando atrás apenas dos linfomas não-Hodgkin. Tem uma prevalência de 17 casos a cada 100 mil indivíduos e estima-se que 15 mil novos casos/ano serão diagnosticados nos Estados Unidos.

Infelizmente, dados epidemiológicos brasileiros não estão disponíveis. Nos últimos anos tem sido feito um grande esforço para melhor se conhecerem as características clínicas e demográficas do MM em nosso país, assim como tentar estabelecer protocolos clínicos para o tratamento desta condição. 

Hungria e cols efetuaram um levantamento envolvendo 15 centros de Hematologia dedicados ao tratamento do MM no Brasil.

O objetivo deste estudo era o de melhor conhecer as características dos pacientes acompanhados nestas instituições e tentar validar o International Staging System (ISS) nesta população. No período de 1998 a 2004, um total de 1.017 pacientes com MM foi acompanhado nesses centros. A mediana de idade ao diagnóstico foi de 61 anos (28-94). Nesse estudo, ficou comprovado que a maior parte dos pacientes com MM no Brasil é diagnosticada em estádios avançados de doença. Considerando o estadiamento de Durie e Salmon, 77% dos pacientes eram DS III, e, peloISS, 86% eram estádio 2 ou 3. É urgente, portanto, um esforço para melhor divulgar o MM em nosso meio, já que o diagnóstico precoce tem impacto em termos de sobrevida.

Neste fascículo da Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Paula e Silva e colaboradores verificaram, através de um inquérito epidemiológico, utilizando testes de múltipla escolha, o conhecimento sobre aspectos diagnósticos relacionados ao MM em um grupo de médicos que atuam na atenção básica à saúde na cidade de Belo Horizonte. 

Cento e trinta e cinco médicos que atuam nesta rede responderam a um questionário que tinha como objetivo avaliar o profissional perante cinco questões fundamentais: (1) a conduta frente a um paciente com anemia, (2) a capacidade de realizar o diagnóstico diferencial em um paciente idoso com lesões líticas, (3) a capacidade de suspeitar de hipercalcemia diante de manifestações clínicas sugestivas, (4) a interpretação da eletroforese de proteínas séricas e (5) a capacidade de diagnosticar MM diante de um quadro clínico característico. 

A única questão que foi adequadamente respondida pelo grupo de médicos estudados foi a de número 1, onde a maioria (94%) soube correlacionar o quadro de anemia normocrômica e normocítica com as doenças crônicas e neoplásicas prevalentes nesta faixa etária. Para todas as outras questões, menos da metade dos médicos soube formular uma resposta adequada, sendo que as duas últimas (interpretação da eletroforese e quadro clínico do MM), que estão diretamente relacionadas ao diagnóstico da condição, foram respondidas por apenas 30% e 36% dos médicos, respectivamente. 

Fica claro que, apesar de não se tratar de uma patologia rara, existe um profundo desconhecimento acerca do MM exatamente no grupo de profissionais de saúde que são, na maioria das vezes, os responsáveis diretos pelo atendimento aos pacientes quando das suas primeiras manifestações clínicas. A nosso ver, é imprescindível adotarmos uma estratégia de melhor divulgação da patologia não somente com os profissionais que atuam na área básica, mas também com os especialistas (ortopedistas, reumatologistas, nefrologistas, neurologistas) que frequentemente recebem pacientes com manifestações clínicas que podem sugerir um diagnóstico de mieloma múltiplo. 


Fonte: Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 30, nº, 6, São Paulo, nov/dez. 2008.



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